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Katia Mattoso também se utiliza dos métodos quantitativos para repensar a história.
Após o tráfico ter sido posto em clandestinidade, no início do século XIX, pelos ingleses, a tendência seria de se diminuir o número de cativos importados da África. Realmente, "o tráfico se estagna em seguida, durante os primeiros anos da clandestinidade, e se reexpande a partir de 1833"(1).
Isto é, através dos números criamos uma nova questão a ser repensada. Por que a expansão, mesmo após a clandestinidade, quando os ingleses até mesmo destruíam os barcos onde se levavam os escravos ?
Nesta primeira parte as tabelas são bastante utilizadas no livro. A autora, assim, nos traz as informações a respeito das relações de preços de escravos e inflação, através de estudos seriais entre preços dos escravos e preços de açúcar e café, por exemplo.
Utilizando-se destes dados ela pôde observar, por exemplo, como a "liquidação das antigas estruturas da agricultura canavieira e, de outro lado, a imigração européia para as lavouras do café conduzem inelutavelmente à depreciação da mão de obra escrava e anunciam o fim iminente do sistema escravista, bem discernível já na queda espetacular dos preços da mão de obra escrava após 1880"(2).
Mas como ela própria coloca no final da primeira parte, ali, "os cativos foram mostrados em rebanho, geralmente emparedados na ignorância do que lhes sucede e no silêncio ao qual se reduz a diferença de idiomas e costumes"(3).
No contexto macro-histórico eles estão a mercê da expansão colonial européia, da acumulação pré-capitalista no mercantilismo, dos acordos entre líderes africanos e os comerciantes das "peças", ou das guerras entre as potências européias, ou do ciclo de produção no Brasil, estão envolvidos em números, apenas como objetos de uma ciência histórica.
Alguns historiadores se esquecem do lado humano e cotidiano da escravidão e conseguem emitir opiniões objetivas como a de Eric Foner que se encontra em matéria na revista Newsweek sobre escravidão na América: "A maioria das pessoas acreditam que a escravidão foi uma aberração. Na realidade, o trabalho livre seria a aberração. Sem escravidão, o Novo Mundo não teria sido desenvolvido"(4).
1 - MATTOSO, Katia. Ser Escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1990. p 48.
2 - MATTOSO, op.cit., p 61.
3 - MATTOSO, op.cit., p 67.
4 - MORGANTHAU, Tom. Slavery : How it Built the New World. Newsweek . Fall/Winter 1991. p 67.
.Katia Mattoso também se utiliza dos métodos quantitativos para repensar a história.
Após o tráfico ter sido posto em clandestinidade, no início do século XIX, pelos ingleses, a tendência seria de se diminuir o número de cativos importados da África. Realmente, "o tráfico se estagna em seguida, durante os primeiros anos da clandestinidade, e se reexpande a partir de 1833"(1).
Isto é, através dos números criamos uma nova questão a ser repensada. Por que a expansão, mesmo após a clandestinidade, quando os ingleses até mesmo destruíam os barcos onde se levavam os escravos ?
Nesta primeira parte as tabelas são bastante utilizadas no livro. A autora, assim, nos traz as informações a respeito das relações de preços de escravos e inflação, através de estudos seriais entre preços dos escravos e preços de açúcar e café, por exemplo.
Utilizando-se destes dados ela pôde observar, por exemplo, como a "liquidação das antigas estruturas da agricultura canavieira e, de outro lado, a imigração européia para as lavouras do café conduzem inelutavelmente à depreciação da mão de obra escrava e anunciam o fim iminente do sistema escravista, bem discernível já na queda espetacular dos preços da mão de obra escrava após 1880"(2).
Mas como ela própria coloca no final da primeira parte, ali, "os cativos foram mostrados em rebanho, geralmente emparedados na ignorância do que lhes sucede e no silêncio ao qual se reduz a diferença de idiomas e costumes"(3).
No contexto macro-histórico eles estão a mercê da expansão colonial européia, da acumulação pré-capitalista no mercantilismo, dos acordos entre líderes africanos e os comerciantes das "peças", ou das guerras entre as potências européias, ou do ciclo de produção no Brasil, estão envolvidos em números, apenas como objetos de uma ciência histórica.
Alguns historiadores se esquecem do lado humano e cotidiano da escravidão e conseguem emitir opiniões objetivas como a de Eric Foner que se encontra em matéria na revista Newsweek sobre escravidão na América: "A maioria das pessoas acreditam que a escravidão foi uma aberração. Na realidade, o trabalho livre seria a aberração. Sem escravidão, o Novo Mundo não teria sido desenvolvido"(4).
1 - MATTOSO, Katia. Ser Escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1990. p 48.
2 - MATTOSO, op.cit., p 61.
3 - MATTOSO, op.cit., p 67.
4 - MORGANTHAU, Tom. Slavery : How it Built the New World. Newsweek . Fall/Winter 1991. p 67.
...continua no próximo post.
Um comentário:
ontem, escravo;
hoje, sub-empregado, mal qualificado;
amanhã, desempregado, excluído e até, quem saberá, deletado...
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