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Nas duas últimas partes do livro, diferentemente de alguns daqueles que pesquisam o Brasil Colonial, como Fernando Novais ou Jacob Gorender, o objetivo de Kátia Mattoso ao pesquisar o escravo, naquele período histórico, não é simplesmente analisá-lo do ponto de vista econômico e social, dentro de um dado modo de produção.
Sua visão, bem próxima a historiografia da Nouvelle Histoire francesa, descendente direta da Escola de Annales, é de uma análise social, econômica, psicológica e cotidiana - uma história total - do escravo e do seu meio vivente.
"As relações de produção não bastam para definir a escravidão; elas limitam abusivamente tudo aquilo que permite situar essa massa de indivíduos não obrigatoriamente participantes de um modo de produção mas que, ao contrário, são adstritos a tarefas e funções das quais depende a própria existência da classe dominante, numa verdadeira inversão do relacionamento habitual entre explorados e exploradores"(1).
Kátia Mattoso é uma das precursoras da história colonial a este nível. Posteriormente muitos outros pesquisadores voltam a mergulhar no cotidiano dos escravos : Os Leigos e o Poder, de Caio Cesar Boschi (1986), Ideologia e Escravidão, de Ronaldo Vainfas (1986). "Deve ser reconhecido, porém, que as pesquisas de base sobre o cotidiano e a resistência escrava ainda se encontram, infelizmente, nos seus primeiros passos"(2).
Nos capítulos que constam da segunda parte do livro a autora se debate com algumas dicotomias dentro da sociedade escravista. Obediência versus resistência, imposição versus persuasão, por exemplo. É através delas que gostaria de analisar aqueles capítulos.
Por que, por exemplo, a maioria dos negros obedeciam as regras criadas pelos brancos ?
De acordo com a autora, os negros (mercadoria) perdiam sua identidade social ao serem presos na África e levados ao Brasil. Isto em condições que bem podemos imaginar. O negro, já escravo, chegava no Brasil necessitando de uma identidade ( elemento necessário a qualquer ser humano que vive em sociedade ).
Kátia Mattoso descreve o mundo em que chega o negro, sem nenhum direito a mudá-lo. Todos, negros e brancos, esperam dele alguma coisa. Os brancos, a sua fidelidade, obediência, sua crença no seu deus único. Os outros negros desejam a sua solidariedade.
A ideologia do branco vai com o tempo sendo imposta aos escravos, principalmente através do ensino da língua portuguesa e da religião. Assim o negro, despersonalizado na sua chegada a algum porto brasileiro se torna um escravo.
1 - MATTOSO, Katia. Ser Escravo no Brasil. Brasiliense. 1990. p. 101.
2 - CARDOSO, Ciro Flamarion (Org.). Escravidão e Abolição no Brasil: Novas Perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p 25.
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Nas duas últimas partes do livro, diferentemente de alguns daqueles que pesquisam o Brasil Colonial, como Fernando Novais ou Jacob Gorender, o objetivo de Kátia Mattoso ao pesquisar o escravo, naquele período histórico, não é simplesmente analisá-lo do ponto de vista econômico e social, dentro de um dado modo de produção.
Sua visão, bem próxima a historiografia da Nouvelle Histoire francesa, descendente direta da Escola de Annales, é de uma análise social, econômica, psicológica e cotidiana - uma história total - do escravo e do seu meio vivente.
"As relações de produção não bastam para definir a escravidão; elas limitam abusivamente tudo aquilo que permite situar essa massa de indivíduos não obrigatoriamente participantes de um modo de produção mas que, ao contrário, são adstritos a tarefas e funções das quais depende a própria existência da classe dominante, numa verdadeira inversão do relacionamento habitual entre explorados e exploradores"(1).
Kátia Mattoso é uma das precursoras da história colonial a este nível. Posteriormente muitos outros pesquisadores voltam a mergulhar no cotidiano dos escravos : Os Leigos e o Poder, de Caio Cesar Boschi (1986), Ideologia e Escravidão, de Ronaldo Vainfas (1986). "Deve ser reconhecido, porém, que as pesquisas de base sobre o cotidiano e a resistência escrava ainda se encontram, infelizmente, nos seus primeiros passos"(2).
Nos capítulos que constam da segunda parte do livro a autora se debate com algumas dicotomias dentro da sociedade escravista. Obediência versus resistência, imposição versus persuasão, por exemplo. É através delas que gostaria de analisar aqueles capítulos.
Por que, por exemplo, a maioria dos negros obedeciam as regras criadas pelos brancos ?
De acordo com a autora, os negros (mercadoria) perdiam sua identidade social ao serem presos na África e levados ao Brasil. Isto em condições que bem podemos imaginar. O negro, já escravo, chegava no Brasil necessitando de uma identidade ( elemento necessário a qualquer ser humano que vive em sociedade ).
Kátia Mattoso descreve o mundo em que chega o negro, sem nenhum direito a mudá-lo. Todos, negros e brancos, esperam dele alguma coisa. Os brancos, a sua fidelidade, obediência, sua crença no seu deus único. Os outros negros desejam a sua solidariedade.
A ideologia do branco vai com o tempo sendo imposta aos escravos, principalmente através do ensino da língua portuguesa e da religião. Assim o negro, despersonalizado na sua chegada a algum porto brasileiro se torna um escravo.
1 - MATTOSO, Katia. Ser Escravo no Brasil. Brasiliense. 1990. p. 101.
2 - CARDOSO, Ciro Flamarion (Org.). Escravidão e Abolição no Brasil: Novas Perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p 25.
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Um comentário:
o banzo (falta de identidade?!) levou milhares à morte...
Além de estarem longe de casa (mama áfrica) eram agrupados com diferentes etnias, isto para reforçar a perda da sua cultura particular (língua/ dialeto, crenças e tradições)...
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