Já imaginou a cena seguinte ?
Você no seu bairro, quieto. Desempregado, a espera de um milagre.
A polícia do nosso Estado Democrático se enfia pelas vielas e mata gente.
Você se revolta. Um dos caras mortos era amigo seu. Todo ensanguentado. 10 ou 15 balas, em todas as partes do corpo.
Vai prá rua, e encontra mais gente que se revoltou, como você.
O pau quebrando. A polícia especial (criada justamente para os momentos em que gente como você se revolta e vai para a rua) metendo balas de borracha e gás mostarda para cima de todo mundo.
Um helicóptero da Globo aparece. Filma tudo. E a noite, em horário nobre, chama você (e todo mundo que está com paus e pedras na mão) de "vandalo". A jornalista, toda prosa, vê abaixo dela bandidos e mocinhos. E você, inocentemente, sempre achou que estava do lado dos mocinhos.
Ficção ? Não. As filmagens apareceram na edição desta Segunda-Feira, no Jornal Nacional. Não vou ser idiota para acreditar que traficantes dos morros do Rio de Janeiro não se aproveitam de eventos como esse para demonstrar sua força. Mas é terrível ver uma profissional do jornalismo afirmar de cima de um helicóptero, sem uma mínima investigação, que indivíduos postados em frente a um batalhão de soldados armados (amados ou não) seriam "vandalos".
Discursos sem consequências ? Que nada. Os editores da Rede Globo sabem o que querem quando chamam indivíduos que se revoltam contra o Estado de "vandalos". Da mesma forma que a imprensa norte-americana (e suas filiais no Brasil) chama aqueles que se dispõem a lutar contra os EUA, e o status quo ocidental, de "terroristas" e os enviam a Guantanamo e mais dezenas de prisões secretas em redor do mundo.
Terrorista, aliás, foi um termo muito bem difundido aqui pelas bandas da América Latina nos anos 60 e 70. Terroristas, subversivos, hereges, traidores da nação... rebeldes. Essa era a forma com que milicos, juntos a empresários, bispos e tradicionais mães de família, acharam de chamar o pessoal que queria reforma agrária, salário decente, e liberdade de expressão para a população de seus países.
Naquela época parecia haver gente nas universidades, nos meios acadêmicos e intelectuais que se punham a favor dos miseráveis e deserdados. Hoje a pequena burguesia (parte da classe média que baba o ovo da elite) prefere ficar de olho no "quarto branco" do Big Brother Brasil Nove... e deixam que políticos como Sarney e Temer pensem sobre todo o resto.
- Puxa, Leo era tão bunitinho...
Como dizem as más línguas, a luz no final do túnel parece ser o farol de um trem vindo em nossa direção.
C.B.
6 comentários:
pensar, livre pensar, esse texto dificilmente sairia em um dos editoriais da globo. pena, pois a leitura dos argumentos de CB mostra o outro lado, ou, os outros lados,da situação de conflito, ainda levará muitos anos talvez século para entender como se entendeu antonio Conselheiro e lampião com outros olhos que não os da mídia, eles até já sairam no plim-plim
"Gás de pimenta para temperar a ordem"
Realmente a revolução não será televisionada, não no sentido real da coisa..
quem manipula a maioria vai sempre ditar quem esta certo e errado na historia, mas sempre vai existir que perceba o dito pelo não dito.
A violencia é reciproca, quando se tira o direito a informação da realidade do fato, persistir nisso será amarrar a corda no proprio pescoço pois quem vive a história há de percebe-la...
Não é de hoje nem de ontem, que a 'os donos dos anéis' tentam a todo custo aviltar os movimentos de resistência ao poder constituído... O grande medo deles é que a 'revolta' tome consciência da ignomínia a qual está submetida, e tome em suas mãos o próprio destino...
Schopenhauer:
“Uma grande quantidade de escritores ruins vive unicamente da estultice do público (os jornalistas) (…) são também alarmistas: este é o seu modo de se tornarem interessantes. No entanto, mediante tal expediente acabam por se igualar aos cãezinhos que, tão logo percebem algum movimento, põem-se a latir fortemente.
Sendo assim, é preciso dar aos seus sinais de alerta apenas a atenção necessária para não prejudicar a própria digestão.”
O poder midiático sempre se propôe a legitimar as atuações do estado; aqui no rio, isso ocorre sobretudo com relação a política de segurança pública. Nós, estudantes de Direito e juristas tentamos deslegitimar as atuações do Estado no uso de seu aparato jurídico-penal que é voltado para as classes pobres; mas vem a imprensa o joga tudo por água a baixo com uma matéria de 1 minuto ou um editorial de algumas páginas. A grande mídia é um inimigo já identificado...assim como o estado.
Definitivamente, " a revolução não será televisionada".
Parabéns pelo texto!
CB, sempre atento contra as armadilhas impostas pela imprensa global.
Quem não consegue manter-se esperto, diante da manipulação da notícia, vira alvo certo e seguidor fiel da religião do pensamento unificado.
A notícia "GLOBAL" tem que ser filtrada e desinfectada.
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