quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Terrorismo de Estado

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Por HUMBERTO DECARLI
(Diario "El Mundo", de Caracas, 17/01/2009)

O terrorismo é um tema contemporâneo devido ao enfoque excessivo dado a ele pela administração Bush, que o lançou dentro do espaço denominado o “eixo do mal”. Com uma apreciação própria do puritanismo americano, utiliza o maniqueismo da contradição entre bem e mal, muito parecido com os roteiros das novelas latino-americanas.

Manejam-se as palavras para qualificar de usuárias do terror algumas organizações que certamente o empregam como método de luta. O ETA e sua indiscriminada colocação de explosivos, as FARC com seus gulags de sequestrados na selva colombiana, os Talibans no Afeganistão com sua concepção delirante do Alcorão, a rede Al Qaida e seus chamados à guerra santa.

No entanto, há uma intenção clara em omitir formas de terror mais perigosas e eficazes. Refiro-me a aquelas exercidas pelos Estados e pelas grandes Corporações. Estados como o norte-americano e a Federação Russa, até Cuba, passando por Israel, China e Myanmar. E Corporações, materializadas pelos grupos transnacionais que, guiados pelo maquiavelismo de seus interesses, financiam atos violentos.

Washington fez história assim, no Vietnam, Laos e Cambodja, América Latina, Afeganistão, Iraque, ou com a barbárie de Guantánamo. Os russos não ficaram para trás na Georgia e anteriormente no Afeganistão, além da tese da soberania limitada praticada pelo governo de Breznev durante a guerra fria. Beijing faz a mesma coisa no Tibet e Xin Jiang para preservar o domínio colonial sobre ambos os territórios.

As Corporações, da mesma forma, têm insuflado conflitos em redor do mundo. Subsidiam as milícias ruandesas no leste do Congo para obter o Coltan, minério de nióbio e manganês usado para construção de celulares e computadores. A Chevron sustenta economicamente ao regime opressor de Myanmar. A guerra civil no Congo-Brazaville foi alimentada por várias empresas petrolíferas, cada uma delas apoiando um dos lados em luta. A Shell possibilitou a repressão na Nigéria contra a etnia Ogoni ao apoiar o general Sami Abache, chegando ao climax de repressão quando executou o poeta Ken Siro-Wabo por protestar contra o ecocídio e a matança no delta do rio Niger. O ditador da Guiné Equatorial, Macia Nguema, foi sustentado pela empresa petrolífera Total.

E agora mesmo presenciamos uma orgia de mortes na Faixa de Gaza, consequência da ação violenta do Estado de Israel. Assassinam crianças e velhos palestinos para liquidar ao Hamas, sem se importar com nada. Isso é uma amostra ostensiva do terrorismo de Estado globalizado.

Estamos presenciando uma época de transformações a nível mundial, e, por isso, aqueles que dominam pretendem manter seus privilégios. Mas, o desenvolvimento dos meios de comunicação social e a expansão das organizações sociais, paralelas ao Estado, têm a grande responsabilidade de equilibrar o globo para um salto qualitativo que faça melhorar ao atual mundo miserável. Mas enquanto haja poder representado no Estado e na agiotagem das corporações haverá guerra, violência e terror.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tenho certeza que NÃO faço parte deste mundo...

Portanto, como dizer NÃO a tudo isto???

Anônimo disse...

Urbano Nojosa (professor de jornalismo comparado da PUC-sp) resenhando 'os irredutíveis' de daniel Bensaïd, escreveu:

"... a indignação é um começo para estabelecer princípios da ação política de enfretamento ao capitalismo. É preciso indignar-se, insurgir-se e depois..."