sexta-feira, 17 de abril de 2009

Feliz surpresa...

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Vira e mexe a gente vê em qualquer jornal ou boletim de imprensa alguém malhando o sistema público de saúde.

É um tal de mostrar hospital literalmente às moscas, cheios de sujeira. Corpos ainda vivos pelo chão, em esteiras, ou mesmo sem elas.

Muitos dos nossos colegas jornalistas adoram (adoram mesmo !!!) ver imagens assim para poder passar no noticiário da TV onde trabalham, e quem sabe ganhar aumento com uma suposta melhoria da audiência da emissora.

Mas hoje tive uma feliz surpresa.

Estava lá pelos lados de Entre Rios (aproximadamente 160 km de Salvador, aqui no Estado da Bahia), trabalhando, e comecei a me sentir tonto, pescoço doendo, e com uma baita suadeira. Meus sintomas conhecidos para pressão subindo.

Pedi ao colega que estava comigo para me levar a um posto de saúde na cidade. Ao chegarmos lá perguntamos onde eu poderia ser atendido e me sugeriram o hospital público.

Chegando ao pronto-atendimento fui muito bem recepcionado. A funcionária que me atendeu pediu para que me identificasse com algum documento. Após esse procedimento, uns 10 minutos depois, eu já me encontrava numa sala com a enfermeira que tomou minha pressão: 160 x 120 mmHg...

Logo após fui atendido pelo médico de plantão (esperei somente dois meninos com febre serem atendidos)... Mais 15 minutos e eu estava tomando um anti-hipertensivo e um diurético, novamente com o auxílio de outra dedicada enfermeira.

Pediram para que eu esperasse mais 50 minutos em repouso (na recepção, assistindo desenho animado de Homem-Aranha, onde fazia menos calor, e não atrapalhava as enfermeiras).

Fui a enfermaria mais uma vez. A enfermeira Nice fez nova medida de pressão: 120 x 80 mmHg... Falei prá ela que fazia tempos que eu não tinha essa pressão de menino. Ela sorriu. Meu colega Adailton me levou de volta pra base onde trabalho.

Essa foi a feliz surpresa. Não vi gente pelo chão, aguardando médico. Não vi gente gritando na porta, clamando qualquer atendimento.

Vi funcionários do Estado trabalhando de forma decente (sem cara feia)... ajundando até a alegrar aqueles que se encontravam mais tristes devido a alguma virose mais forte.

É claro que não pude deixar de ver a pintura das paredes descascando, não pude deixar de perceber a falta de lâmpada no banheiro (mas tava cheirosinho e limpo). Não pude deixar de perceber a correria de uma das enfermeiras prá chamar uma médica em outro edifício do hospital, pois não há extensões ou ramais de telefone, facilitando a comunicação interna. Não é um hospital dos sonhos.

Mas não é difícil perceber após uma experiência dessas que é possível se ter um sistema de saúde público digno para os cidadãos. Com gente digna trabalhando, com uma estrutura bem montada, e com mais gastos do Estado, incentivando seus funcionários a trabalharem cada dia com mais dedicação.
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C.B.

4 comentários:

Anônimo disse...

a palavra chave, meus queridos, é descentralizar para não congestionar os corredores hospitalares:

se em cada localidade (distrito, bairro ou cidade) tivesse um ‘posto 24h’ minimamente aparelhado, casos simples e corriqueiros não precisariam disputar espaço nos hospitais, que cuidariam de casos de maior complexidade....

veja o caso que asSOLLA o estado bahia (dengue), tem-se que ir até um hospital para ser re-hidratado com soro!!!

saúde (cê tá precisado) e anarquia!!!

Beslard disse...

"Socorro, meu Deus, eu não quero morrer!!!". Bom saber que passas bem.

Adailton disse...

Existe nessa narrativa alguns fatores, que talvez contribuam para a tranquilidade no atendimento. O fato de Entre Rios ser uma cidade pequena, onde as ocorrencias são poucas e grande parte das pessoas quando não se conhecem, pelo menos já se viram, leva a um certo ar de harmonia e acolhimento.
Para grandes centros como Salvador, esse atendimento com um maior calor humano e tempos de espera muito pequenos é também plenamente possivel, entretanto, requer um nivel muito maior de investimentos, não só do ponto de vista de recursos materiais, como também no que diz respeito a treinamento e valorização dos recursos humanos das instituições de saude.
Concordo com aqueles que acreditam que além de mais investimentos no setor bem como uma melhor gestão desses recursos a melhor alternativa para esses grandes centro seja a discentralização, com diversas unidades espalhadas pela cidade.

Vinícius A.C. disse...

Eu trabalho em unidade de saúde, como assistente administrativo. Esse é o cotidiano, também, aqui. Ao menos, na capital, em Vitória, onde eu trabalho. Trabalho numa USF. As consultas somente são críticas, se você depender de especialista, aqui no ES, pois são poucos; assim a consulta pode demorar vários meses, no mais tardado. Já numa consulta como a que você realizou, aqui, o atendimento é imediato, aqui nas unidades (demandou certa urgência). Em consultas simples, como odontológicas, aqui, pode tardar, no máximo, uma semana! Paz, saúde e anarquia! ;)