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Há quase um século surgiu na Europa a idéia de uma renovação social a que chamaram Anarquia. Isto é, a constituição de uma sociedade sem governo, ou para evitar dúvidas, cuja direção se faça fora do princípio da autoridade, da tirania de indivíduos que não produzem sobre a massa de trabalhadores.
Esse indivíduos vivem nas capitais, em festas, representações, bons prédios, muito luxo, à custa dos trabalhadores que cultivam a terra possuída por eles, que preparam os objetos de uso e luxo nas fábricas deles, e que deles recebem um pagamento reduzido ao mínimo possível, apenas para não morrerem de fome.
Para impedir qualquer reclamação dos trabalhadores, eles seduzem outros trabalhadores ignorantes em cujo cérebro cultivam a idéia de pátria, dizendo-lhes que precisam defender as suas instituições, quer contra ataques externos, quer contra revoltas internas: dão-lhes uma farda e lhes chamam de soldados.
Esses soldados submetem-se à disciplina, isto é, obrigam-se a não pensar, nem agir por si mesmos, mas sempre por ordem dos seus "superiores", de modo que, se lhes mandarem matar, são obrigados a matar, seja a quem for e sem saber porque, transformando-se, assim, em máquinas de matar.
Esses homens são os instrumentos de guerra. As guerras existem porque há homens ignorantes e a tal ponto brutalizados que aceitam, como verdade, o preconceito de pátria e se submetem cegamente às ordens de outros homens.
Texto publicado na Revista "A VIDA"
Novembro de 1914
Um comentário:
Sempre que leio um texto publicado em jornais anarquistas de quase 100anos atrás, fico impressionado com a atualidade e pertinência das análises.
Isso me indica duas coisas:
1. que os pensadores anarquistas tinham uma percepção arguta da realiade social;
2. que essa realidade, infelizmente, pouco se alterou, como prova a questão da guerra, ainda "na moda" para os detentores do poder.
Parabéns pela reprodução de um texto tão bacana.
Abs
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