segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A mídia em Israel toca as trombetas da guerra

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Encontrei o texto abaixo tanto na Agência Carta Maior, quanto no Site do Centro de Mídia Independente. Para as duas fontes ele foi escrito pelo jornalista israelense Gideon Levy.

Desculpem, mas não busquei a autenticidade deste texto (no próprio diário israelense onde o jornalista trabalha, o Haaretz, por exemplo). Ele me pareceu tão bem escrito que não me preocupei se o foi pelo jornalista israelense ou não.

Achei legal para colocar aqui, pois tanto retrata a situação atual de Israel, neste momento em que aquele país faz guerra contra os Palestinos de Gaza, quanto é também um cruel retrato de uma mídia parcial. Parcialidade criada tanto através do medo, construído pelo Estado Militarista Israelense, quanto pela própria necessidade daquela mídia de se por ao lado do poder (aliás, característica parecida com todas as grandes mídias em redor do mundo).

Eis ai o texto.

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Eis como estão as coisas em Israel: opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e atitude que deve ser combatida. Podem debater o custo da paz eternamente; ninguém ouvirá uma palavra sobre o custo da guerra. Movimentos pacifistas são censurados. Movimentos pró-violência são ensinados. Pelo menos, até certo ponto.

A crítica da guerra, mais uma vez, terá de esperar. [...] Esse é o teste de coragem e credibilidade da mídia, sempre igual, guerra após guerra. E sempre, guerra após guerra, a mídia fracassa.

Nos estúdios de televisão, só entram generais e analistas militares, as mesmas caras, nos mesmos estúdios, já desde a guerra passada, na de antes, na de antes daquela, porque só neles concentra-se a sabedoria e o talento que há na sociedade de Israel, na opinião da mídia de Israel. 

Porque é assim que estão as coisas em Israel: os primeiros dias de guerra, de qualquer guerra, são sempre os mais sombrios. Mas nada de "Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!" Ah, não! Silêncio nenhum. O que se ouve é sempre o mesmo coro estridente de entrevistas e noticiários de televisão, gritaria, vinhetas espalhafatosas, clamores urgentes de "mais ataques, mais ataques", "matem mais", que Israel mate muito, que não pare de matar, entusiasmo crescente a cada nova chacina, guerra sem parar, cada vez mais. 

Só depois, quando baixa a poeira, quando já todos sabem que mais uma vez a vitória converteu-se em derrota, e as conquistas foram ilusão (quando não apenas mentiras), então, sim, começam a falar outras vozes. Até que, algumas vezes, algum senso, depois, aos poucos, implanta-se também na opinião pública. Sempre tarde demais. Sempre desgraçadamente tarde demais.

No primeiro dia dessa nova guerra, a televisão mostrou imagens horripilantes. Praticamente nada se escondeu. Telas divididas mostravam de um lado o medo em Ashkelon, de outro, o sofrimento em Gaza. (...) Todos os canais de televisão em Israel exibiram pedaços de cadáveres de palestinos carregados, com escavadeiras, para caminhões de carga. O pior de tudo: nem aquelas imagens despertaram qualquer protesto. Dessa vez, já não pareceu necessária qualquer tipo de consideração. Israel tornou-se tão indiferente à morte, o coração dos israelenses endureceu, petrificou-se de tal modo, que Israel vê o que viu essa semana... e nada! Apatia? Não, não é só isso.

A mídia foi cuidadosamente preparada para essa guerra. Nenhuma comissão de inquérito, nem Winograd nem Doner, poderá jamais dizer que a mídia não tenha sido preparada para essa guerra. Durante meses, todos recebemos apavorantes 'informes' sobre o crescente poderio do Hamás, sobre como o Hamás se armava. Túneis, bunkers, casamatas, mísseis de longo alcance, exército cada dia maior. Nenhum jornalista investigou. Ninguém sequer suspeitou.

Depois da fase de preparação, a fase de avaliação: isso não pode continuar, disseram todos os analistas, introduzindo a idéia de que a resposta teria de ser militar, exclusivamente militar. Os assustados moradores de Sderot passaram a ser as únicas vítimas conhecidas. Não as crianças de Gaza, que não têm nem caderno para escrever, não os adultos que não tem nem cimento para vedar os túmulos de seus mortos, não os motoristas que dirigiam carros movidos com óleo de cozinha que aprenderam a reciclar, não os médicos que operavam sem eletricidade, não os feridos operados sem anestésicos, não as famílias mortas de frio. Essas não são personagens da cena do "isso não pode continuar".

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Obs.: O texto completo pode ser lido nos links colocados no início deste post.

2 comentários:

Anônimo disse...

Senhores,

Considero impactantes as imagens de qualquer guerra, incluindo a da sobrevivência...

Pois lá está o vínculo que nos une enquanto humanos (solidariedade), bem a motivação egoísta de re-afirmarmos a nossa individualidade como seres únicos.


Charles Mackay:

“o homem, já foi dito, e com acerto, pensa como rebanho; ver-se-á que ele enlouquece como rebanho, ao passo que retorna à razão apenas vagarosamente, e um por um”

NeO R. disse...

É impressão minha ou os israelenses veem a guerra como os americanos também o fazem??